Depois
de muito tempo, senti hoje vontade de rezar ― uma forma de já estar rezando. Desejo, de algum modo, de proteção
que não fosse a que eu mesma constituo em meu ser. Rezar bem pode ser um
desdobramento dessa proteção ― sentir-se amparado pela
espiritualidade, pelo bem que se traz em si. E é claro, para mim, que a
literatura desde sempre foi um sucedâneo da religião, embora eu não seja uma
ovelha exemplar. Importa o sentimento do sagrado, tênue, que mesmo
as palavras deixam escapar...
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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