No rasto deixado
pelas amizades perdidas, uma constatação: minha baixa imunidade à intimidade. Em
todas as amizades que perdi ― ou abandonei ― não suportei alguma coisa que só posso chamar de
excesso do outro em mim. De tal forma
que não consigo saber se perdi ou provoquei a perda. Há qualquer coisa de incompetência nisso, um viver eternamente amador, uma dificuldade incrível de
perceber limites. Pois, se é para (se) afastar depois, por que permitir a
aproximação? Talvez pela esperança, tímida, de que a vida surpreenda.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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