Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

sair do eterno retorno

No rasto deixado pelas amizades perdidas, uma constatação: minha baixa imunidade à intimidade. Em todas as amizades que perdi ou abandonei não suportei alguma coisa que só posso chamar de excesso do outro em mim. De tal forma que não consigo saber se perdi ou provoquei a perda. Há qualquer coisa de incompetência nisso, um viver eternamente amador, uma dificuldade incrível de perceber limites. Pois, se é para (se) afastar depois, por que permitir a aproximação? Talvez pela esperança, tímida, de que a vida surpreenda.

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