Esta
ciência selvagem de investigar a força
por
dentro dos olhos:
a
treva parada numa parte: do outro faiscando
todos
os astros:
as
obturações as
aberturas
na carne: não sei ver nos livros a aparição do rosto
todo
cercado por uma casa:
não
conheço quando nasce a ribeira no meio:
quando
nasce quando
a
ribeira de uma montanha
no
meio brilhante:
a
maldade da linguagem se o cinema mostra
as
janelas das paisagens:
e
essa forma repleta de passos para indagar:
e
então é preciso outra maneira de poema: uma
espécie
furiosa de pessoa comentando
com
muito pormenor:
cabeças
cheias de raiva e murmúrios no escuro:
a
intensidade dos cabelos em volta dos cornos: e logo o poema
traz
as coisas para o quarto: coloca
tudo
mais perto do centro:
vê-se
a teia que vai da fronte às coxas com os braços reluzentes
por
cima
e
no meio um remoinho cego:
o
sexo: a estrela
tumefacta:
esta
ciência é um movimento das mãos contra o espelho:
a
parte de trás da cabeça onde vibra o meteoro: é
a
onda aproximada: uma porta na sala
que
fecha de estrela a estrela:
apenas
o sangue e a testa um pouco louca entre os dedos:
copo
de mármore:
planeta
de aço:
uma
flor rija ascencional com os pulmões chamejando
na
terra:
essa
velocidade que há na noite de lado a lado:
e
a testa fervente abismada no mundo: e os polos
do
corpo:
clareira
cerrada
à volta: esse modo secreto de tudo mexer
com
uma finura viva:
não
sei que dedos no estilo para queimar a cara forte
paralisada:
a combustão
dentro
da fotografia: a sibilante cara:
a
cara:
e
a maneira sagaz de trazer cada coisa até à própria labareda:
as
mãos enxutas muito abertas: o
medo
sem um só grito
em
frente da noite cosida: camisa
redonda:
e este saber
que
vê passar os animais fundos e claros e tem
a
sua loucura para alimento:
e
a casa
para
morrer e falar durante o sono e andar
de
um canto para outro
com
os dedos aluminando limpamente: o circuito magnético entre as têmporas:
a
raiz da ciência desde os pés até os olhos
Herberto Helder. Ou o
poema contínuo. São Paulo: A Girafa, 2006, p.307-309.
Nenhum comentário:
Postar um comentário