Das conversas com uma amiga, encaminhei-me para a
leitura de A morte de Ivan Ilitch. Por
mais difícil e complicado que seja viver, há esse fio frágil e tênue, a vida, o único bem
que, em qualquer sentido que se olhe, continua sendo um bem, aquém da
corrupção. A vida como um bem, um presente do acaso, a coincidência divina de
estar vivo, viver, junto a outras vidas a que se ama e se quer bem. Um dia será
preciso abrir mão deste bem.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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