Que ausência nova é esta, em que me percebo distante
de mim? E cansada, muito cansada, talvez também de mim, de ser alguém que
comparece como “eu” diante de um “tu”, um “ti”, um “você”. “Meu tempo é quando”,
disse o poeta. Mas ainda posso falar de um tempo que me pertença? Tenho eu alguma coisa além do pálido contorno com que me defino e afirmo? Parece-me que
tenho bem pouco ― palavras como “tempo”, “eu”, “cansaço”. E liberdade de
usá-las, inclusive a que acabo de escrever, e com a qual escrevo estas e muitas
outras coisas, inúteis e vãs.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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