Desci para
comprar uns complementos para o almoço, cheia de disposição para preparar meu
alimento (em vez de sair e comer fora). Mas, já na saída, deparo-me com o amor
contrariado, negado, interditado. Ao chegar ao mercado, a fila estava grande, e
deduzi que pelo horário todos haviam ido lá no mesmo intento. Foi então que a
náusea foi vindo, fazendo-se perceptível aos poucos, náusea da própria
humanidade em suas entranhas e de fazer parte delas, dessas entranhas, e a
imagem do amor interditado acentuando tudo, a náusea, o sentimento de asco, de
nojo, de recusa. Impossível almoçar depois disso. As palavras que poderiam me
salvar também estão interditadas, e então eu entro batendo o portão com alarde,
impotente diante da vida.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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