Houve um tempo, bom, em que eu amanhecia ouvindo
pássaros cantando nas imediações de onde vivia. Eles não sei onde viviam, mas é
como se vivessem onde eu vivia. Hoje, às vezes, um pássaro ou outro canta pela
manhã, e isso é o bastante para trazer de volta todos aqueles pássaros daquelas
já distantes manhãs, ou quem sabe me levar até elas.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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