Ao me vestir, escolher as roupas que vou usar, tenho
a impressão de que sou urbana. No entanto, há algo que as roupas não escondem.
Um espelho de shopping deu o flagrante: num
vislumbre rápido, percebi todo um conjunto perfeitamente caipira. Esperto era Rubem
Braga, que tinha uma amostra de suas raízes na cobertura de Ipanema em que
vivia.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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