Ontem
eu desejei respirar como fazia na juventude, ou num tempo ainda mais distante,
motivada pela sensação de que, por um brevíssimo momento, eu tenha respirado
como se tivesse 14, 15 anos... Tão rápida a sensação veio e se foi, quase
imperceptível, que eu fiquei tentando reaver uma espécie de bem-aventurança
perdida, como se a razão fosse o bastante para fazer o corpo experimentar essas
sensações fugidias. Mas essa mínima incursão do passado no presente trouxe, além
da nostalgia de um tempo em que o ritmo, o pulsar da vida era outro, aparentemente
inexplicáveis, trouxe a esperança de que alguma coisa daquele ritmo possa uma
hora, naturalmente, ressurgir no corpo de hoje.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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