Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Paulo Henriques Britto

SÚCUBO

A lucidez de certos sonhos
que nem parecem ser reais,
tal como faz a realidade.

Entra-se neles de repente,
não no começo, sem saber
de onde se vem e aonde se vai,

e pouco a pouco dá-se conta
de que há um sentido nisso tudo,
só que não está ao nosso alcance,

e quando menos se imagina
tudo termina de repente,
tal como faz a realidade.

Paulo Henriques Britto. Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.75.

Nenhum comentário:

Postar um comentário