Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Não verás país nenhum

O forte calor que está fazendo há dias faz pensar na atualidade de um livro de 1981, de Inácio de Loyola Brandão, “Não verás país nenhum”, cujo título altera substancialmente o sentido do conhecido verso de Olavo Bilac, “Não verás país nenhum como este.” O tom laudatório cede à imagem apocalíptica de uma terra devastada: não verás país nenhum. E, de fato, alguém está vendo alguma coisa, algum país (nação) a que se sente efetivamente pertencendo? Não, a não ser que consiga chamar de nação uma geografia hostil.

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