CANTIGAS
ESQUECIDAS – III
Paul Verlaine
Chora no meu coração
Como chove na cidade;
Qual será tal lassidão
Entrando em meu coração?
Como chove na cidade;
Qual será tal lassidão
Entrando em meu coração?
Ó doce rumor da chuva
Pela terra e sobre os tetos!
Coração que se enviúva,
Ó, a cantiga da chuva!
Pela terra e sobre os tetos!
Coração que se enviúva,
Ó, a cantiga da chuva!
Chora sem qualquer
razão
No coração que se enfada,
Pois! Nenhuma traição?…
Este luto é sem razão.
No coração que se enfada,
Pois! Nenhuma traição?…
Este luto é sem razão.
É bem certo a pior dor
A de não saber por quê
Sem amor e sem rancor
Coração tem tanta dor!
A de não saber por quê
Sem amor e sem rancor
Coração tem tanta dor!
Tradução José Lino Grünewald. Disponível aqui.
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Fernando
Pessoa. Poesia 1931-1935. São Paulo: Companhia
das Letras, 2009, p.199-200.
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