Esta pergunta pontua o entrecho do conto “O Espelho”,
de João Guimarães Rosa, numa digressão que termina por interpelar o leitor. A
narrativa condensa um percurso assaz complexo rumo a si mesmo, que o narrador
descreve ao leitor uma vez finda a experiência com o espelho. A questão resume a
angústia diante de uma transformação ou percurso existencial complexo que
alguém porventura atravesse. Ia-o conseguindo? No labirinto da vida, é uma
pergunta que se faz, sem que se vislumbre uma resposta. A pergunta ecoa nos
labirintos da própria mente.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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