Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 23 de julho de 2023

um poema de André Dahmer

 as meninas que tina me deu

são tão novas nem imaginam não sabem

que quando alguém diz

preciso de um tempo para pensar

esse alguém irá embora para sempre

ainda são tão novas

não querem cuidar dos dentes

ter muito dinheiro

morar no mato

encontrar um psicólogo que aceite

o plano de saúde

não sabem nem imaginam

que o espírito se degrada em vício

que alcoolismo não é coisa engraçada

que os homens 

gostam de fazer as mulheres 

de brinquedo


DAHMER, André. Impressão sua: poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2021, p.56. Página oficial do ofício mais conhecido do autor: http://www.malvados.com.br/.

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