Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 19 de junho de 2010

Saramago

Morreu ontem, aos 87 anos de idade, o escritor português José Saramago. Recebi a notícia na escola, e foi inevitável que os colegas comentassem - sobre a perda e sobre a obra que ele deixou. Então uma colega falou uma coisa muito interessante, sobre o livro "Ensaio sobre a cegueira", que deu origem ao filme do Meirelles (Blindness, 2008 - trailer aqui). A cegueira branca - que vai progressivamente acometendo todos - não se dá pela falta, mas pelo excesso - excesso de luz, de informação, de conhecimento, de forma que aquilo que é próprio do ser humano está escapando, não consegue mais ser discernido, alcançado. O excesso fazendo-nos perder a nossa própria especificidade, perdermo-nos de nós mesmos. Então um escritor que conseguiu, com sua obra, deixar o mundo menos cego é memorável. Mais memorável para nós é o fato de que ele pertence à Língua Portuguesa. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário