Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Alberto Magnelli, Clarice Lispector e o figurativo em arte

Visitando a exposição de Alberto Magnelli (CCBB-RJ), me ocorreu o seguinte trecho de Clarice Lispector, intitulado "Abstrato é o figurativo". Segue: "Tanto em pintura como em música e literatura, o que tantas vezes chamam de abstrato me parece apenas o figurativo de uma realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu." (A descoberta do mundo, Rio de Janeiro, Rocco, 1999, p. 316). Trata-se de um artista que envereda pela via do abstrato, o que torna sua obra mais densa, mais difícil de ser percorrida pela hermenêutica da busca de sentidos. Demanda, certamente, um segundo olhar.

Alberto Magnelli, Linguagem Turbulenta, 1937

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