Um aluno do 6º ano me pergunta se um número equivale a uma palavra. Um número, em sua representação gráfica de número, não por extenso. É que ele precisava escrever alguma coisa com não sei quantas palavras, e aí me perguntou se podia colocar um número como palavra. Um número, em princípio, não seria uma palavra, mas escrito por extenso é. E é claro que número é uma palavra. A gramática escolar de Evanildo Bechara diz, no capítulo referente à questão, "Numeral": "É a palavra de função quantificadora que denota valor definido: 'A vida tem uma só entrada: a saída é por cem portas.' [MM]" Prossegue o autor: "Os numerais propriamente ditos são os cardinais: um, dois, três, quatro etc., e respondem às perguntas quantos?, quantas? Na escrita podem ser representados por algarismos arábicos (1, 2, 3, 4 etc.) ou romanos (I, II, III, IV etc.)." (BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006, p.184). Admitindo-se que algarismo é diferente de palavra, fica então respondida a pergunta do aluno. Uma pergunta que me obriga a pensar sobre o que é uma palavra me leva a deduzir que tenho alunos interessados, que nem sempre mostram tudo que sabem. Ou será isso viagem demais? Ah, sim: o MM citado é de "Marquês de Maricá".
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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