Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 16 de janeiro de 2011

um filme (quase) esquecido

Era um rapaz bonito, jovem, inteligente, cheio de disposição para a vida. O filme se passa na Segunda Guerra. Filme polonês? Quem sabe. A sexualidade do rapaz foi entendida pelo regime nazista como uma patologia a ser tratada, e ele foi recolhido a um campo de concentração onde, além de toda a brutalidade do trabalho forçado e debilitante, o rapaz foi submetido a experiências (um verdadeiro assassinato) que lhe causaram lesões cerebrais definitivas. Seu progressivo aniquilamento é a parte mais dolorosa do filme. O rapaz chega a ser resgatado do campo de concentração, mas ele, o rapaz, não existe mais, é apenas um vegetal conduzido pela mão das pessoas. Por sorte o nazismo também deixou de existir.

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