Era um rapaz bonito, jovem, inteligente, cheio de disposição para a vida. O filme se passa na Segunda Guerra. Filme polonês? Quem sabe. A sexualidade do rapaz foi entendida pelo regime nazista como uma patologia a ser tratada, e ele foi recolhido a um campo de concentração onde, além de toda a brutalidade do trabalho forçado e debilitante, o rapaz foi submetido a experiências (um verdadeiro assassinato) que lhe causaram lesões cerebrais definitivas. Seu progressivo aniquilamento é a parte mais dolorosa do filme. O rapaz chega a ser resgatado do campo de concentração, mas ele, o rapaz, não existe mais, é apenas um vegetal conduzido pela mão das pessoas. Por sorte o nazismo também deixou de existir.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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