Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

paciência

Paciência deveria ser um verbo, e não um nome, um substantivo. Emprega-se o verbo impacientar(-se), perder a paciência, mas nunca ouvi ninguém pronunciar o verbo pacientar (ter paciência): não colou, ou então as pessoas mais se impacientam que pacientam, tornando desnecessário o segundo verbo. E no entanto fala-se tanto em paciência, ou na falta dela, deseja-se tanto esse estado de espírito: talvez porque ela, a paciência, esteja em falta, então nem seria necessário o verbo impacientar-se: não se perde o que não se tem. Por isso paciência poderia ser um verbo, a ser conjugado sempre. 

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