Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 23 de outubro de 2011

broken mirror

Picasso, Girl Before a Mirror, 1932 (aqui)

Diante do espelho quebrado, a ilusão da ilesa face original. Espelho quebrado ― contingência com que mais cedo ou mais tarde a face vai se defrontar. Não há como restaurar o espelho. Não há como prescindir de uma face. Que nela não se espelhe, qual mosaico tênue, o espelho quebrado (vísceras íntimas) do sujeito. Mas, fugindo à rigidez da armadura quixotesca, possa a face não mentir ao desencontro com o espelho. 

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