Ainda sobre a bondade, ocorreu-me depois que ela precisa vir acompanhada de alguma espécie de força, força aqui equivalendo à ausência de medo. Não pode haver bondade na fraqueza, porque esta faz par com o medo, e o medo está na origem das piores vilanias que o homem pode conhecer: traição, vingança, perjúrio, difamação, desejo puro e simples do mal. O medo faz o homem vacilar, fraquejar. Por outro lado, a força excessiva pode destruir a bondade, porque confunde-se com poder. Na trama pensada por Foucault entre poder e conhecimento, fico imaginando em que interstícios a bondade teria ensejo de acontecer.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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