Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 4 de dezembro de 2011

último mês do ano

No dia 1º de dezembro senti qualquer coisa de diferente nas ruas: um pouco mais de rumor e pressa, uma agitação diferente e sutil em processo de aceleração. Percebi o 1º de dezembro no ar, que estava mais denso que de costume. O curioso é que costumo saber o dia da semana, não o do mês – talvez pela pouca familiaridade com os números. Some-se a isso a presença maciça da publicidade que não deixa o cristão esquecer a efeméride, como se de repente uma horda estivesse pronta a se lançar irracionalmente às compras ― é o que a propaganda sugere ―, a par dos primeiros votos de bom final de ano, e a certeza do último mês do ano toma corpo e alma, mais matéria que espírito. Nesta época do ano meu movimento é de desmaterialização.

Nenhum comentário:

Postar um comentário