A
propósito de uma crônica de Luis Fernando Verissimo cujo desfecho criava certo
suspense, uma aluna, após muitas discussões entre os alunos, disse que o autor
queria exatamente aquilo, provocar o debate, a imprecisão dos limites entre o
que é realidade e o que é imaginação. E, como eram as duas últimas aulas do dia
e eu já estava no piloto automático, enveredei por um caminho que me levou a
dizer mais ou menos o seguinte, enquanto olhava para a concretude e a certeza
das carteiras (certeiras) à minha frente: que nós nos agarramos à concretude do
mundo para viver. Num ônibus, em pé, não é preciso se segurar para não cair?,
perguntei a um aluno, enquanto encenava o gestual com as mãos. Ele me olhou
concreto. Aí disse o que não havia até então pensando: que nós nos seguramos
nas palavras para não cair, somos malabaristas, equilibristas. E há alguns
excelentes, como Luis Fernando Verissimo.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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