Não existe ex-professor, assim como não há
ex-médico, ex-engenheiro, ex-advogado, no sentido com que usualmente se diz
“ex-professor”. O aluno pode se tornar ex-aluno, mas isso não necessariamente
remete seus professores à categoria de ex, simplesmente porque o professor,
quando foi seu professor, foi por inteiro, e o trabalho feito não se perdeu ― a não ser que o aluno nunca, de fato,
tenha sido aluno, o que dispensaria, por sua vez, de pensar em ex-aluno. A
oração “quando foi seu professor” não pressupõe esta outra,
“quando foi professor”: o professor não deixa de ser professor quando o aluno
deixa a escola ― deixa de ser aluno ―, pois o exercício de sua profissão não se restringe,
temporalmente, à vivência que o aluno teve com ela.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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