O JB, quando ainda circulava na versão impressa, tinha uma
coluna ― ou algo similar, pelo menos quando eu ainda lia o jornal ― intitulada
“Sábado no Rio”, que eu percorria sem grande curiosidade, mas que me ficou na
memória ― pelo menos o título. Na época, eu não podia sonhar que um dia viria
morar nesta cidade. O sábado no Rio, conforme apresentado pela simpática
coluna, era uma coisa que se passava num reino bem distante, quase em outra
galáxia. Tratava-se de uma leitura (ou leitora) pitoresca. Mas, de fato, a grande mestra disso
tudo é a memória. Eu teria me esquecido dessa coluna por completo se não
tivesse vindo morar no Rio de Janeiro e prestado atenção em seu sábado, por
outro ângulo, diga-se. O (meu) sábado no Rio tem pouco a ver com a substância
porosa que guardei da leitura da coluna antiga, e foi por contraste que a
memória trabalhou. Porque eu sei que é diferente, mas não sei explicar como nem
por quê. A memória deu contorno a uma experiência, mas essa experiência é
singular.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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