Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 30 de junho de 2012

sábado no rio

O JB, quando ainda circulava na versão impressa, tinha uma coluna ― ou algo similar, pelo menos quando eu ainda lia o jornal ― intitulada “Sábado no Rio”, que eu percorria sem grande curiosidade, mas que me ficou na memória ― pelo menos o título. Na época, eu não podia sonhar que um dia viria morar nesta cidade. O sábado no Rio, conforme apresentado pela simpática coluna, era uma coisa que se passava num reino bem distante, quase em outra galáxia. Tratava-se de uma leitura (ou leitora) pitoresca. Mas, de fato, a grande mestra disso tudo é a memória. Eu teria me esquecido dessa coluna por completo se não tivesse vindo morar no Rio de Janeiro e prestado atenção em seu sábado, por outro ângulo, diga-se. O (meu) sábado no Rio tem pouco a ver com a substância porosa que guardei da leitura da coluna antiga, e foi por contraste que a memória trabalhou. Porque eu sei que é diferente, mas não sei explicar como nem por quê. A memória deu contorno a uma experiência, mas essa experiência é singular. 

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