Um poema, um verso, uma palavra ― qualquer traço que, na ponta
extrema dos dedos, possa (aqui falha o
verbo...), possa dar conta da intensidade do dia que ora finda. Coisas que
não se dizem impunemente, mas que pedem para ser ditas, nem que seja através do
ruído. É preciso fazer respirar
profundamente o verbo, para que ele possa reverberar para além dos circuitos da
razão.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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