“O fato é que somos universos a anos-luz uns
dos outros e, quando nos roçamos, a faísca que se produz é no mais das vezes
atrito, não harmonia. Esta é a origem do culto da solidão preconizado por
Proust, Virgínia Woolf, Clarice Lispector ― a perplexidade de que um homem
nunca se sintonize adequadamente com o outro, a estupefação com o fato de que
não nos assemelhemos a ninguém e de que todas as relações sejam uma espécie de
compromisso forçado para o espírito, uma opressão bem ou mal disfarçada. É duro
olhar para o fundo de nós e notar que temos bem pouco em comum com quem quer
que seja. Afinidades são constituídas em grande parte por complacências.”
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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