Há poucos lugares mais ridículos, se é que há, que uma
academia de ginástica. Pessoas submetendo-se cegamente ao espelho (um
paradoxo?). No entanto, um médico mandou-me fazer atividade física, porque o
colesterol subiu. Um outro constatou tendência para a perda de cálcio, e
remeteu-me para o mesmo lugar. Sempre fui sedentária, de forma que qualquer
atividade física que vá fazer a essa altura da vida envolve uma ampla e
paciente negociação com o corpo ― perder dores cuidando para não
ganhar outras. É o mínimo que se pode tentar fazer, e talvez seja suficiente.
Comecei falando do corpo, mas agora, aqui, já é outra coisa.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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