O sonho de viver no sonho que reproduz a vida ― dia ou noite, qual deles é nossa
verdade? Ou seremos um compósito dos dois, sabendo de si o pouco que o dia dá e
tomando a noite como recalque? O sonho, absurdos por vezes inaceitáveis, mas
que estão lá, manifestando-se pela manhã como restos da noite. E o que a
lembrança não acessa, e por isso sequer imagina ou supõe? Existirá?
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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