Na semana que ora finda uma amiga veio
conversar comigo, em tom de conselho, sobre a imagem que decantou de mim após certo episódio. Claro
que percebi a armadilha. Eu disse a ela que minha imagem já tinha passado por
coisas bem mais complicadas, e que nada disso impediu que eu chegasse onde
cheguei. Pelo contrário, até ajudou, porque me mexi, segui adiante. A armadilha em que minha
amiga caiu, e na qual queria me enredar, foi achar que o problema dela também podia ser um problema meu:
preservar a qualquer custo uma imagem: a que cada um acredita ser sua. Foi isso
o que a colega me disse, em tom de conselho. Ela me mediu por ela.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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