Esquecer é uma dádiva que se alcança, em parte pelo
esforço e vontade, em parte pela disciplina. A percepção do esquecimento é algo
muito curioso: lembra-se, aparentemente de forma fortuita, de que algo está
sendo esquecido, está em processo de esquecimento, e então se percebe o próprio
esquecimento, pelo qual se sente gratidão e alívio. Na verdade, é o velho dando
lugar ao novo, e o lampejo da memória pode até ser uma forma de recompensa pelo
esforço em criar um novo modo de vida.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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