1922
Em
começo de 1920 vários municípios sertanejos da Bahia sublevaram-se. Para evitar
luta, o governo contemporizou, entrou em combinações com os chefes rebeldes.
Em março ocorreram na capital
federal manifestações de operários, logo abafadas severamente. 1921 principiou
com agitações deste gênero: greve de trabalhadores marítimos, greves dos
operários de construção. E o desassossego aumentou durante a campanha da
sucessão, culminou em 1922 com demonstrações de indisciplina e revolta.
É curioso notar que isso não
ficava apenas em comício, com discurso e tiro. Havia indisciplina em toda
parte: nos quartéis, nas fábricas, nos atelieres,
nos cafés, nos quartos de pensão onde sujeitos escrevem. E a revolta, meio
indefinida, tomando aqui uma forma, ali outra, manifestava-se contra o oficial,
que exige a continência, e o contra o mestre-escola, que impõe a regra. A autoridade
perigava.
Afastou-se o pronome do lugar
que ele sempre tinha ocupado por lei. Ausência de respeito a qualquer lei.
Com certeza seria melhor
deslocar o deputado, o senador e o presidente. Como estes símbolos, porém,
ainda resistissem, muito revolucionário se contentou mexendo com outros mais
modestos. Não podendo suprimir a constituição, arremessou-se à gramática.
5 de julho
A
eleição realizada em março de 22 foi um desastre, como de ordinário. Vencedor o
candidato do governo. Pílulas. Continuação da mágica besta; a chapa entregue ao
eleitor encabrestado e metido na urna, ata fabricada pelo coronel, o Congresso
examinando todas as patifarias e arranjando uma conta para a personagem
escolhida empossar-se.
Francamente, aquilo não tinha
graça. No começo da República, ainda, ainda: mas agora estava muito visto,
muito batido, não inspirava confiança. Necessário reformar tudo.
Como? Ninguém sabia direito o
que viria, mas todos concordavam num ponto: não podia vir coisa pior que o que
tínhamos. Muito brilho por fora: visita de reis, exposição, projetos de açudes,
universidade, numerosos hóspedes ilustres. Por dentro era aquela miséria:
doença, ignorância, o coronel safado a mandar, assassino e ladrão.
E alguns rapazes se levantaram,
no forte de Copacabana, a 5 de julho de 1922. Mas houve defecções. O marechal
Hermes, implicado no movimento, deixou-se prender. Ficaram em Copacabana
dezoito doidos que afrontaram a tropa, comandados por Siqueira Campos.
O centenário
Depois
disso veio o estado de sítio, com muita prisão. Em seguida fizeram-se grandes
festas para solenizar o centenário da Independência.
RAMOS,
Graciliano. Alexandre e outros heróis. 56.ed. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.180-182.
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