O ócio deveria ser reconhecido como um direito fundamental do ser
humano, assim como o direito a uma boa noite de sono. Se etimologicamente
negócio é "negação do ócio", então ócio simplesmente poderia ser entendido como
o livre direito de não fazer nada, nada que significasse “produzir”, pelo menos com
fins explícitos ou programados. O Houaiss dá algumas definições curiosas de
ócio: “s.m. 1. cessação do trabalho; folga, repouso, quietação, vagar; 2. espaço de tempo em que se descansa; 3. falta de ocupação;
inação, ociosidade; 4. falta de disposição física; preguiça, moleza,
mandriice, ociosidade; 5. fig.
trabalho leve, agradável. etim
lat. otìus, 'lazer, repouso'.” A partir da terceira
acepção, o pejorativo se insinua. De tantas definições, o ócio fica ocupado: lazer,
ócio criativo, trabalho leve, agradável... O ócio, no sentido de um direito,
estaria na primeira acepção. Quietação. Nem mesmo a meditação. Simplesmente quietar.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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