Nas imagens que comparecem à noite, na intrincada
arquitetura dos sonhos, figuram por vezes pessoas de minhas relações, próximas,
em situações perturbadoras. Desavisada, incomodo-me mais pela pessoa naquela
situação que pela situação que se valeu daquela pessoa para uma representação —
ou condensação. Não é fácil, e essas imagens/enredos entram sorrateiramente na
arquitetura do dia, ainda que por defesa ou precaução. Não havia me ocorrido
ainda, porém, igualmente por desaviso, que eu também eventualmente posso
figurar nos enredos noturnos de pessoas próximas a mim. Não sem algum
desconforto, decanta-se-me uma questão: em que representações?
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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