Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 25 de agosto de 2013

caetano hoje n'o globo

“Mas tenho de manter a minha fama de mau. O que desejo, no entanto, é tomar o 2 de Julho baiano deste ano como exemplo do que deve ser o 7 de Setembro nacional. Li no Jânio deFreitas (...) palavras indignadas com a agressão à emergência do Hospital Sírio-Libanês perpetrada pelos grupos violentos que se tornaram um lugar-comum do estágio final de cada passeata. Já me referi aqui à arriscada simplificação que a mídia faz quando separa os protestos, que começam pacíficos, dos atos de ‘vandalismo’ que em geral a eles se seguem: muita gente que não joga pedra se sente representado por quem joga — e muitos dos que saem sem esse intuito muitas vezes aderem, no calor da hora, aos atos agressivos. Todos sabem (a Globo mostrou os vídeos da Mídia Ninja) que a incitação à barbárie por vezes parte de policiais infiltrados e disfarçados (...). Mas as depredações de bancos e butiques responde a uma raiva anticapitalista que é parte do impulso político que fez nascer as manifestações. Também às formas meio filosóficas, meio literárias de expressão de tal sentimento engendradas por leitores de Deleuze e Foucault, como Antonio Negri e Michael Hardt (...). Seja como for, um 7 de Setembro violento seria uma burrice. Meu colega Sidney Waismann me procurou para propor algum gesto público que prevenisse a hecatombe que o artigo de Jânio de Freitas esboça (a partir do que leu em redes sociais). Sidney sugere chamar Zuenir, Alba Zaluar, Francisco Bosco, quem sabe companheiros músicos e outros criadores e pensadores, e pedir audiência com Beltrame. Por outro lado, expor aos manifestantes a questão não formulada: a violência é mais eficaz? Ele lembrou que Zuenir evoca Gandhi, Luther King e Mandela como exemplos. Se sairmos pela paz na Independência, o país lerá concentradamente a pergunta “Cadê Amarildo?” e tentará respondê-la. O mundo passa por convulsão. Nós precisamos de sabedoria. Dizer que passeata pacífica é armação da mídia golpista é pobreza que ajudará os piores argumentos dos reacionários. O artigo de Francisco Bosco foi iluminador. Para mim, violência no 7 de Setembro seria simplesmente burrice.

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