POETAS
Luis Fernando Verissimo
1/09/13
Ainda não sabemos tudo sobre Marte, mas sabemos o
bastante para dizer que ele nos decepcionou. Marte foi um blefe. Os tais canais
vistos pelas lunetas antigas, provas de que haveria alguma forma de vida
inteligente no planeta, mesmo que fosse só de engenheiros, não eram canais.
Nenhum vestígio de qualquer tipo de vida apareceu em Marte, muito menos o de
uma civilização de homenzinhos verdes, ou de qualquer outra cor, com a
capacidade para invadir a Terra. Anos e anos de literatura premonitória e
previsões terríveis foram desperdiçados. Nos apavoraram por nada. Como no
Iraque, também não havia armas de destruição em massa em Marte.
Mas, se Marte revelou ser um imenso parque de
estacionamento, que não ameaça a Terra, isso não quer dizer que não existam
civilizações lá fora que cedo ou tarde entrarão em contato conosco, exigindo
nossa submissão ou anunciando a invasão.
Nada nos assegura que, se ainda não fomos invadidos
por exércitos extraterrenos, não tenha havido — ou esteja havendo neste momento
— missões de prospecção e espionagem, feitas por destacamentos avançados ou por
agentes isolados. Não quero assustar ninguém, mas vou contar. Já tive contato
com um desses agentes extraterrestres. Desconfiei quando ele disse “Vocês são
engraçados...” e eu perguntei: “Vocês”, quem? “Vocês” brasileiros? “Vocês”
carecas? “Vocês” míopes? Destros? Cardiopatas? E ele respondeu: “Vocês, gente.”
E me confessou (já tinha bebido um pouco) que não
era deste mundo, era de outro, e estava prospectando o Universo inteiro atrás
de um planeta para ser colonizado pelo seu. Achava que tinha, finalmente,
encontrado este planeta. Era a Terra. No seu relatório, recomendaria que a
Terra fosse ocupada e sua principal riqueza natural explorada, pois era o que
faltava no planeta do qual viera.
Perguntei qual era a riqueza natural que nós
tínhamos e eles não e o extraterrestre respondeu: “A poesia.” E perguntou:
“Você sabe que a Terra é o único planeta do universo conhecido em que as
pessoas dão nome aos ventos?” Fiquei lisonjeado com aquilo, pensando: “Taí,
somos todos poetas e não sabíamos”, e perguntei o que fariam com os poetas da
Terra no planeta dele.
— Comê-los, claro — respondeu ele.
E explicou que não havia mais poetas no seu planeta
porque já tinham comido todos. Ou como eu imaginava que eles tinham se tornado
uma civilização tão avançada?
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