Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 5 de outubro de 2013

Emily Dickinson

Depois de mais cem anos
Ninguém sabe o Lugar
É Paz que não se move
A Dor que ali doeu

Cresceu altiva a grama
O Estranho que foi lá
Só viu a Ortografia
De quem já faleceu

No ar do Verão o Vento
Da trilha há de lembrar
O Instinto guarda a Chave
Que a memória perdeu


After a hundred years
Nobody knows the Place
Agony that enacted there
Motionless as Peace

Weeds triumphant ranged
Strangers strolled and spelled
At the lone Orthography
Of the Elder Dead

Winds of Summer Fields
Recollect the way
Instinct picking up the Key
Dropped by memory

DICKINSON, Emily. A branca voz da solidão. Trad. José Lira. São Paulo: Iluminuras, 2011, p.74-75.

Nenhum comentário:

Postar um comentário