De todo modo, as baratas estão debaixo da cama —
lentas, semiocultas, empoeiradas, com patas mais espessas e movimentos mínimos.
Parecem não querer serem incomodadas pelas inquietações humanas, que no entanto
lá chegam, em seu nicho empoeirado. Debaixo da cama é, também, um lugar em que certas camadas dos sonhos são permitidas.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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