Barton Fink
é das melhores coisas dos irmãos Coen que já vi. Passei a prestar atenção no cinema deles casualmente, vendo filmes
em cartaz: o poderoso Onde os fracos não
têm vez e o kafkiano Um homem sério.
Então comecei a me situar, e assisti ao ótimo Queime depois de ler, ao excelente The Big Lebowski, ao razoável Bravura
Indômita, ao mediano Fargo, sem
contar o humor negro de Matadores de
velhinha. Foi antes de Bravura
Indômita que assisti a Barton Fink,
e talvez essa sequência tenha desfavorecido o segundo filme. Barton Fink mira a própria indústria
cinematográfica, com uma acuidade que eu diria única. A dupla que faz a roda do
filme girar, o roteirista recém-chegado a Hollywood, Barton, e o homem comum e seu
vizinho de quarto, Charlie, protagoniza diálogos repletos de desamparo e humor
autoirônico. Barton, ao mesmo tempo em que é o artista-intelectual que pretende
falar do homem comum, sem conseguir reconhecê-lo ou ouvi-lo, inspira no
espectador uma empatia advinda da verdade de seu sofrimento, e de sua intenção,
aparentemente genuína, de esnobar os intelectuais. Quanto a Charlie, é um
verdadeiro enigma. Agora é aguardar Inside Llewyn Davis.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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