O sossego, paradoxalmente, vindo do Livro do desassossego:
357.
Regra é da vida que
podemos, e devemos, aprender com toda a gente. Há coisas da seriedade da vida
que podemos aprender com charlatães e bandidos, há filosofias que nos ministram
os estúpidos, há lições de firmeza e de lei que vêm no acaso e nos que são do
acaso. Tudo está em tudo.
Em certos momentos
muito claros de meditação, como aqueles em que, pelo princípio da tarde,
vagueio observante pelas ruas, cada pessoa me traz uma notícia, cada casa me dá
uma novidade, cada cartaz tem um aviso para mim.
Meu passeio calado é
uma conversa contínua, e todos nós, homens, casas, pedras, cartazes e céu,
somos uma grande multidão amiga, acotovelando-se de palavras na grande
procissão do Destino.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego.
Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Org. Richard Zenith. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006, p.333.
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