“Perguntou o que eu pensava daquilo. Não era fácil encontrar as palavras, era
tarde, o cansaço pesava, teria preferido ir dormir, olhava as luzes do golfo,
soprava uma leve brisa carregada de umidade [...], era custoso continuar,
principalmente numa língua estrangeira para ambos. De vez em quando ele fazia uma pausa para procurar a palavra certa e
nesses vazios minha atenção se perdia ainda mais, um país sob vigilância,
esperava que o entendesse, claro que entendia, entendia perfeitamente, por mais
que para entender melhor as coisas seja necessário tê-las tocado com a mão, mas
sabia muito bem que naqueles anos o seu era um país sob vigilância, iria além,
um país policialesco, melhor dizendo.”
Antonio Tabucchi, “Festival” (O tempo envelhece depressa. Cosac Naify, 2010, p.117, trad. Nilson Moulin).
Nenhum comentário:
Postar um comentário