A miopia e o conservadorismo do grupo que tomou de
assalto o poder no Brasil encontram “a sua mais completa tradução” na extinção do Ministério da Cultura. Alguém poderá dizer que a ausência de
representatividade social no “novo” ministério é um sintoma pior, ou mais
contundente. O desprezo à cultura, no entanto, conceito dos mais complexos da
sociedade, de qualquer sociedade, traz em seu bojo os demais vícios da referida composição ministerial ― o macho adulto branco sempre no comando, para falar
junto com outra canção de Caetano.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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