Veio um pequeno grupo de ex-alunos meus do 6º ano, agora no 7º, falar de saudades, perguntar se eu voltaria a dar aula para eles etc. Imprevisíveis. Muito simpáticos, não pareciam afetar um sentimento que não existia, mesmo porque criança não costuma perder tempo com isso, algo que, à medida que vão crescendo, lamentavelmente começa a acontecer. Que interesse poderiam ter em vir me falar algo dessa ordem? Nenhum, equivalendo aos alunos que nada vieram falar. Queriam falar, falaram. Me senti lisonjeada e contente ao ter meu valor reconhecido naquela roda de meninos (e algumas meninas) inteligentes, saudáveis, bonitos, sobretudo simpáticos e ainda com alguma coisa do frescor da infância. Porque era disso que se tratava, um afeto desinteressado, um modo de afetar e ser afetado que dizia respeito à experiência da sala de aula. Aí um deles disse uma coisa muito engraçada, como se dissesse de fato uma coisa evidente por si mesma, que não necessitasse de justificativa ou explicação mas fosse importante para o mundo funcionar: esse ano só tem professora feia. No mesmo instante eu devolvi: então quer dizer que eu era bonita?! Eles riram, e ficou por isso mesmo, cada um tomou seu rumo. Gostei de ouvir a indireta sutilmente sugerindo minha beleza? Sim, que mulher não gostaria?
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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