Uma amiga faz-me um grande favor. Escrevi-lhe perguntando por sua saúde e ela respondeu sucintamente, acrescentando que estava meio de mau humor. Achei formidável: o direito ao mau humor. Respondi-lhe um pouco depois que ela tinha me dado uma ótima ideia: eu nunca me permiti dizer: hoje não, estou de mau humor. Até esse dia. Há outras coisas, no entanto, que me permito amiúde. Não, isso aqui não é uma ilha ornada por um belo par de olhos azuis.
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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