Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


sábado, 21 de maio de 2011

Alexei Bueno

Da cinza

Fita as tuas mãos, mãos que não prendem,
E os dedos teus, que nada enlaçam,
Estalactites que se estendem
E onde do tempo as gotas passam.

Nada em seu vácuo se aconchega,
Nem mesmo o vácuo de outras mãos,
Nelas só o fogo se congrega,
O que arde em tudo. Os brilhos vãos.

BUENO, Alexei. Em sonho. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003, p.385. 

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