Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


terça-feira, 17 de maio de 2011

Alice

Lendo o famoso diálogo de Alice com a lagarta, esta fumando sobre um cogumelo (e a sugestão de que um lado faz crescer e o outro diminuir de tamanho), não deixa de ser estranho pensar que a lagarta lança uma questão sem resposta, haja vista o diálogo andar em círculos, como faz lembrar o próprio ciclo de vida da lagarta: "Quem é você?" Como encontrar a porção exata dos dois lados do cogumelo que satisfaça a questão? Talvez a lagarta estivesse perguntando: "Quem você pensa ser?" Alice sabia-se Alice, apesar de tudo, mas quem a lê talvez não tenha tanta certeza disso, embora tenha a seu dispor palavras com que organizar-se. 

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