Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

cordas da liberdade

Lendo isto, não pude deixar de pensar nas palavras com outro devotado carinho, as cordas que cada um possui, embora possa não se dar conta disso: "Por fim, com medo de perder o prazo para trocas, Bob levou para casa um violão barato, que acariciava como se fosse uma relíquia espanhola. Acompanhando as instruções, ele correu os dedos suavemente pelas seis cordas, apertando os dedos nas casas. Aquilo quase soava como música. Ele ficou horas sentado com o violão no colo, explorando e experimentando. Os dedos ficaram doloridos. O Manoloff’s Basic Spanish Guitar Manual deu algumas dicas. Mas os ouvidos e os dedos do rapaz logo tomaram a frente. Ele dominou uma posição atrás da outra. Identificou as escalas e descobriu a chave para os tons certos. Mandem-me uma chave ― eu encontrarei a porta onde ela se encaixa, nem que procure até o resto da vida.”

Robert Shelton. No direction home: a vida e a música de Bob Dylan. Trad. Gustavo Mesquita. São Paulo: Larousse, 2001, p.67. Aqui o comentário do Dylanesco sobre este trabalho monumental de Robert Shelton, perceptível já nas páginas iniciais. A fala destacada de Dylan é de 1966.

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