Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

e. e. cummings

piedade desse monstro em ação,humanimaldade?  

não. O progresso é uma doença confortável:
tua vítima(morte e vida a salvo à pane)

brinca com a grandeza de sua pequeneza
— elétrons deificam uma gilete
em macroescala;lentes estendem

nãodesejo por ondeante ondequando até que ele
retorne ao seu nãoeu.
                               Mundo de haver
não é mundo de ser—piedade desta pobre

carne e árvores, pobres pedras e estrelas, mas nunca
desse ótimo espécime de hipermágica

ultraonipotência. Nós médicos sabemos

que um caso é sem remédio quando—olhe:tem uma puta
de uma vida boa paca aí do lado;vamos lá


pity this busy monster,manunkind,

not. Progress is a comfortable disease:
your victim(death and life safely beyond)

plays with the bigness of his littleness
— electrons deify one razorblade
into a mountainrange;lenses extend

unwish through curving wherewhen till unwish
returns on its unself.
                             A world of made
is not a world of born—pity poor flesh

and trees,poor stars and stones,but never this
fine specimen of hypermagical

ultraomnipotence.  We doctors know
a hopeless case if—listen:there's a hell
of a good universe next door;let's go

e. e. cummings. Poem(a)s. 2.ed. Trad. Augusto de Campos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2011.

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