“Se algum dia tiver de me contar, farei talvez, se sobrar o tempo, um poema ― poema é só poema, não poesia. Poema se faz com papel, tinta e suor ― poesia é estado de graça, sonambulismo e transfiguração. O melhor, porém, é não escrever nada, nem versos nem memórias, nem epopeia nem biografia. O que há de mais secreto em nós é incomunicável e intransferível. O homem não é mais que sua vida ― porém muito menos que seus sonhos.”
Gosto de imaginar que ilhas significam-se ― fazem-se dizer por signos ― mediante barcos que se aventuram nas águas que as separam, mas também as unem: as águas podem ser oceânicas ou simples veredas, salgadas ou doces, profundas, turbulentas e mais difíceis de navegar, ou arroios cristalinos que escorrem transparentes entre pedras e vegetação de grande frescor. Os barcos, as palavras. E tudo o mais que diz respeito à palavra afeto, no sentido de afetar, atravessar. Escrever e ler são pontas de ilhas que se fazem significar ― os trajetos dependem dos barcos, das ilhas, das águas que as separam. Este blog não pretende nada, exceto lançar barcos que eventualmente alcancem outras ilhas. Barquinhos de papel.
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