DÉDALO
Enterrado, vivo
Em um infinito
Dédalo de espelhos
E me ouço, me sigo,
Me busco no liso
Muro do silêncio.
Porém não me encontro.
Olho, escuto, apalpo.
Por todos os ecos
O meu próprio acento
Está pretendendo
Chegar-me ao ouvido...
Porém não o advirto.
Alguém está preso
Aqui neste frio,
Lúcido recinto,
Dédalo de espelhos...
Alguém que eu imito.
Alguém que eu imito.
Se parte, me afasto;
Se torna, regresso;
E se dorme, sonho...
― “És tu?” eu me digo.
Porém não respondo.
Cercado, ferido
Pelo mesmo acento
― Meu? Não sei dizê-lo ―
― Meu? Não sei dizê-lo ―
Contra o eco mesmo
Da mesma lembrança,
Eu nesta lembrança,
Eu neste infinito
Dédalo de espelhos
Enterrado vivo.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993, p.362-363.
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